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sábado, 16 de julho de 2011

Coração na mão

                                                                       
Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

Clarice Lispector

terça-feira, 3 de maio de 2011

Profissão Mãe

                                                                                

Uma mulher foi renovar a sua carteira de motorista.

Pediram-lhe para
informar qual era a sua profissão.

Ela hesitou, sem saber bem como se
classificar.
"O que eu pergunto é se tem um trabalho",

insistiu o funcionário.
"Claro que tenho um trabalho", exclamou .

"Sou mãe".
"Nós não consideramos "mãe" um trabalho.

Vou colocar"Dona de casa", disse
o funcionário friamente.
Não voltei a lembrar-me desta história

até o dia em que me encontrei em
situação idêntica.
A pessoa que me atendeu era obviamente

uma funcionária de carreira,
segura, eficiente, dona da situação,
perguntou:Qual é a sua ocupação?
Não sei o que me fez dizer isto,

as palavras simplesmente saltaram-me da
boca para fora
"Sou Doutora em Desenvolvimento

Infantil e em Relações Humanas."
A funcionária fez uma pausa,

a caneta de tinta permanente a apontar para o
ar e olhou-me como quem diz que não ouviu bem.

Eu repeti pausadamente,
enfatizando as palavras mais significativas.
Então reparei, maravilhada,

como ela ia escrevendo, com tinta preta, no
questionário oficial.
Posso perguntar, disse-me ela com novo interesse,

o que faz exatamente?
Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz,

ouvi-me responder:
"Desenvolvo um programa a longo prazo

(qualquer mãe faz isso), em
laboratório e no campo experimental

(normalmente eu teria dito dentro e
fora de casa). Sou responsável por uma equipe

(minha família), e já recebi
quatro projetos ( todas meninas).

Trabalho em regime de dedicação
exclusiva (alguma mulher discorda???),

o grau de exigência é em nível de 14
horas por dia (para não dizer 24 horas).
Houve um crescente tom de respeito

na voz da funcionária que acabou de
preencher o formulário, se levantou

e, pessoalmente me abriu a porta.
Quando cheguei em casa, com o título

da minha carteira erguido, fui
recebida pela minha equipe: uma com 13 anos,

outra com 7 e outra com 3
anos. Do andar de cima, pude ouvir o meu novo

experimento (um bebê de seis
meses), testando uma nova tonalidade de voz.

Senti-me triunfante!
Maternidade... que carreira gloriosa!
Assim, as avós deviam ser chamadas

"Doutora-Sênior em Desenvolvimento
Infantil e em Relações Humanas".
As bisavós:

"Doutora- Executiva- Sênior".
E as tias:

"Doutora - Assistente".
Uma homenagem carinhosa a todas

as mulheres, mães, esposas, amigas,
companheiras.

Doutoras na Arte de fazer a vida melhor !!!


sábado, 30 de abril de 2011

Promessa de Mãe...

                                                                                
Se ao casarmos nos comprometemos com coisas tão grandiosas como fidelidade e amor eterno àquele estranho que está diante de nós, por que o ritual não se repete para um filho, para uma filha?

Deveríamos. Anotar e falar aos quatro ventos o que queremos e o que acreditamos para essa relação. Eu, devagar, tenho feito a minha lista individual daquilo a que devo comprometer-me todos os dias para com esse pequeno bicho que mama em meu peito. Não é fácil. Porque já me sinto cansada e sem forças, e ela tem apenas alguns meses. Mas é disso que é feita uma relação, não é? De um amor que sobrevive “apesar de”.

Apesar de tudo, prometo que estarei atenta a você, minha filha querida. Apesar dos letreiros luminosos da rua, apesar do barulho infernal da cidade, apesar das inúmeras solicitações do dia-a-dia, eu ainda olharei para você com toda a atenção e o amor que você merece.

Apesar de toda névoa que a vida irá dissipar entre nós, ainda assim irei vasculhar no escuro quem você é, o que te faz feliz e o que te assusta, o que te faz triste e o que te torna alegre ou confiante.

Eu prometo, minha querida, que mesmo quando eu estiver cansada e exausta, irei buscar fundo na memória o quanto te desejei e o quanto tua presença me tornou uma pessoa melhor e mais completa.

Eu prometo que apesar dos teus erros e das tuas malcriações, não esquecerei tua nobreza e tua vontade de acertar. Irei lembrar-me de te elogiar e de te incentivar, ainda que a vida me ocupe de broncas e castigos.

Eu prometo que não jogarei em ti os meus traumas e os meus desejos. Eu prometo que não vou culpar-te pelas minhas escolhas, pelos meus erros e pelas minhas frustrações. Eu quero muito te isentar do que for doloroso da minha maternidade. Isso é possível?

Eu prometo respeitar quem você é, mesmo que seja diferente de tudo o que eu desejei para ti. Eu prometo me preocupar mais contigo do que com os vizinhos, eu prometo que vou ouvir o que você disser mais do que me preocupar com o que os outros dirão.

Eu prometo estar inteira quando estiver contigo, mesmo que não sejam todas as horas do dia.

Eu prometo te enxergar, filha, e ainda que a tua verdade me assuste, não vou fechar meus olhos.

Eu prometo, sobretudo, fazer de mim mesma uma pessoa inteira e feliz, para que você não tenha que arcar com as minhas frustrações ou com o meu mau-humor. Eu não vou jogar em ti o fardo dos meus preconceitos.

Eu prometo que, embora haja obrigações, embora haja responsabilidades e contas a pagar, acharei sempre uma brecha, pequena que seja, para te dar carinhos e beijinhos, para fazer cócegas e risos junto com você, mesmo que o dia esteja chuvoso lá fora.

Eu prometo te tornar livre, mesmo querendo te aprisionar a mim.

E, quando você tiver o seu coração partido e eu não puder colar seus mil pedacinhos, prometo que respeitarei a tua dor e não vou nunca desdenhar ou diminuir o teu enorme sofrimento.

Eu prometo dar atenção aos teus desenhos, à tua pasta de papel de carta, ao penteado das tuas bonecas, à tua agenda e às tuas provas. Serão muitas provas pelas quais teremos de passar, minha filha.

E, por fim, eu prometo amar-te e respeitar-te, todos os dias das nossas vidas – até que a morte nos separe.


Fonte: Crônica do Dia: PROMESSAS DE MÃE >> Kika Coutinho. 

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Condição de entrega

                                                                                        

Acaba de ser revelado o que uma mulher quer e que Freud nunca descobriu. Ela quer uma relação amorosa equilibrada onde haja romance, surpresa, renovação, confiança, proteção e, sobretudo, condições de entrega. É com essa frase objetiva e certeira que Ney Amaral abre seu livroCartas a uma Mulher Carente, um texto suave que corria o risco de soar meio paternalista, como sugeria o título, mas não. É apenas suave.
Romance, surpresa etc, não chegam a ser novidade em termos de pré-requisitos para um amor ideal, supondo que amor ideal exista, mas "condição de entrega" me fez erguer o músculo que fica bem em cima da sobrancelha, aquele que faz com que a gente ganhe um ar intrigado, como se tivesse escutado pela primeira vez algo que merece mais atenção.
Mesmo havendo amor e desejo, muitas relações não se sustentam, e fica a pergunta atazanando dentro: por quê? O casal se gosta tanto, o que os impede de manter uma relação estável, divertida e sem tanta neura?
Condição de entrega: se não existir, a relação tampouco existirá pra valer. Será apenas um simulacro, uma tentativa, uma insistência.
Essa condição de entrega vai além da confiança. Você pode ter certeza de que ele é uma pessoa honesta, de que falou a verdade sobre aquele sábado em que não atendeu ao telefone, de que ele realmente chegará na hora que combinou. Mas isso não é tudo. Pra ser mais incômoda: isso não é nada.
A condição de entrega se dá quando não há competitividade, quando o casal não disputa a razão, quando as conversas não têm como fim celebrar a vitória de um sobre o outro. A condição de entrega se dá quando ambos jogam no mesmo time, apenas com estilos diferentes. Um pode ser mais rápido, outro mais lento, um mais aberto, outro mais fechado: posições opostas, mas vestem a mesma camisa.
A condição de entrega se dá quando se sabe que não haverá julgamento sumário. Diga o que disser, o outro não usará suas palavras contra você. Ele pode não concordar com suas ideias, mas jamais desconfiará da sua integridade, não debochará da sua conduta e não rirá do que não for engraçado.
É quando você não precisa fingir que não pensa o que, no fundo, pensa. Nem fingir que não sente o que, na verdade, sente.
Havendo condição de entrega, então, a relação durará para sempre? Sei lá. Pode acabar. Talvez vá. Mas acabará porque o desejo minguou, o amor virou amizade, os dois se distanciaram, algo por aí. Enquanto juntos, houve entrega. Nenhum dos dois sonegou uma parte de si.
Quando não há condição de entrega, pode-se arrastar, prolongar, tentar um amor pra sempre. Mas era você mesmo que estava nessa relação?
Condição de entrega é dar um triplo mortal intuindo que há uma rede lá embaixo, mesmo que todos saibamos que não existe rede pro amor. Mas a sensação da existência dela basta.
MARTHA MEDEIROS


domingo, 3 de abril de 2011

Antes nunca que tarde

                                                                                                                                                                     
Quando a vida se torna uma espera profunda, antes tarde do que nunca. Mas quando é que a gente aprendeu a gostar mais da espera do que da chegada? Quando passamos a nos contentar com a possibilidade e a viver sem nunca ter? Ele não pode dormir um pouco a menos para te encontrar hoje e te dar o abraço que você precisa, mas um dia ele vai te abraçar, então, você aceita. Ele ainda não te ama, mas um dia pode ser que ame, então você insiste. Ele não dá a mínima, mas você dá o máximo para saber que fez a sua parte e se satisfaz assim. Ele errou e sabe disso, mas o próximo da fila está esperando, não dá tempo dele se desculpar, quando der, e ele estiver sozinho, ele te procura. Seus amigos querem que você desista, mas você ainda acredita no amor de vocês, ainda que ele não exista. Vai passando os dias e você ainda espera que ele chegue, mesmo que ele nunca tenha chegado. Há quem chegue, há quem passe e você sempre se apaixonou pelo errado. Você deixa a agenda do celular lotada de números para os quais nunca liga ou se liga não atendem ou se atendem não entendem a falta que você sente. Mas você deixa. Vai que um dia você precisa, vai que um dia o telefone toca? A paixão se torna promessas e o mais próximo de um relacionamento que você chega é colecionar possibilidades, trocar telefones e MSNs, pessoas que se tornam parte do passado sem dar tempo de que você as tenha em seu presente. E de presente eu quero hoje alguém disposto, simplesmente disposto e não o oposto do que eu sonhei para mim. Ainda há o que eu sinto, eu sei, eu sou daqueles que prefere amar e não ter do que ter e não poder amar. Mas eu cansei de te esperar com uma flor já seca em mãos desejando que em algum momento da vida a gente se esbarre. Eu sem motivo te elegi a flor mais bela e esqueci de notar tudo mais que há no mundo, como um beija-flor cego que procura sempre a mesma flor, não por ela se destacar, mas por já conhecer o caminho. Você era uma flor, mas não do tipo que eu pensava. O problema de uma flor que tem espinhos é que você se agarra a ela mais do que às outras, e prefere sangrar a não se sentir vivo. Só que amor não é dor. E até o bastante, por hoje, e talvez para sempre, não me basta mais. Demora, mas a gente em algum momento mágico da vida entende que no amor sobrevive quem se esforça, não quem força. Tem horas que o coração da gente tem pressa e precisa de tudo cedo e o que chega tarde já não serve mais. Quando o "amanhã" com frequência se tornou hoje, sem que você notasse, eu notei que para nós já era tarde demais. Quando o amor pela dor e não mais pela paixão arde, antes nunca do que tarde.
Ruleandson do Carmo

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sumi

                                                                                          

Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo
quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando
melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro
antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de
lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência.

Marta Medeiros

domingo, 9 de janeiro de 2011

A dor que dói mais - Saudade -

                                                                             
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Marta Medeiros

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Pode invadir...

                                                                                          

Ou chegar com delicadeza
Mas não tão devagar que me faça dormir
Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar
Acordo pela manhã com ótimo humor
Mas ... permita que eu escove os dentes primeiro
Toque muito em mim
Principalmente nos cabelos
E minta sobre minha nocauteante beleza
Tenho vida própria
Me faça sentir saudades
Conte algumas coisas que me façam rir
Viaje antes de me conhecer
Sofra antes de mim para reconhecer-me
Acredite nas verdades que digo
E também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa.
Respeite meu choro
Me deixe sozinha
Só volte quando eu chamar
E não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada
Então fique comigo quando eu chorar, combinado?
Seja mais forte que eu e menos altruísta!
Não se vista tão bem...
Gosto de camisa para fora da calça,
Gosto de braços
Gosto de pernas
E muito de pescoço.
Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, cheiros, olhos, mãos...
Leia, escolha seus próprios livros, releia-os.
Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos.
Seja um pouco caseiro e um pouco da vida
Não goste tanto de boate que isto é coisa de gente triste.
Não seja escravo da televisão, nem xiita contra.
Nem escravo meu
Nem filho meu
Nem meu pai.
Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.
Me enlouqueça uma vez por mês
Mas me faça uma louca boa
Uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ...
Goste de música e de sexo
Goste de um esporte não muito banal
Não invente de querer muitos filhos
Me carregar pra a missa, apresentar sua família... isso a gente vê depois ... se calhar ...
Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora
Quero ver você nervoso,inquieto
Olhe para outras mulheres
Tenha amigos que se tornem meus amigos e digam muitas bobagens juntos.
Me conte seus segredos ...
Me faça massagem nas costas.
Não fume
Beba
Chore
Eleja algumas contravenções.
Me rapte!
Se nada disso funcionar ...
Experimente me amar!”
Marta medeiros

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O medo de amar

                                                                              
Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê.

O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade.

E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro.

Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.

Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo.
Martha Medeiros

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A IMPONTUALIDADE DO AMOR

Você está sozinho. Você e a torcida do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha. 

Trimmm! É sua mãe, quem mais poderia ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa? 

Agora, por exemplo, que você está de banho tomado e camisa jeans. Agora que você está empregado, lavou o carro e está com grana para um cinema. Agora que você pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz. Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio. 

O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa. 

O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito. 

A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor odeia clichês. Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.

quinta-feira, 25 de março de 2010

A FITA MÉTRICA DO AMOR - MARTA MEDEIROS

                                                                    







Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento. Ela é enorme pra você quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado. É pequena pra você quando só pensa em si mesmo, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade.






Uma pessoa é gigante pra você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto. É pequena quando desvia do assunto.

Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês





Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições? Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.




É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações. Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes.



Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade sem tamanho