A melodia e o acorde tinham uma velha rixa entre si.
A melodia falava como quem morde ou arranjava sempre um motivo para fazer gozação com o pobre do acorde. Dizia que o acorde não sabia fazer outra coisa além de um único e grande ruído, que ele não tinha a menor idéia da beleza de um solo melodioso, puro e sem alarido. Não conhecia a vida levada a sério, ao seu mais fundo sentido, vendo o futuro, a partir do passado, passo a passo construído.
O acorde fazia que nem ligava e em altos brados retrucava que aquela velha senhora continuava a viver à moda antiga, com saudades do passado e frases mofadas de intriga. Bem se via que não entendia nada do prazer de viver a vida. Eu não, dizia ele imponente, gosto mesmo é de estar presente, de viver livre cada segundo, de gozar o som inteiro, a voz intensa de todos os instrumentos, gritar que eu existo no mundo. Quero ser eu e horizonte, quero vibrar no clímax da poesia em vez de mofar passados em mirrados e melosos trilhos de melodia.
Era uma briga sem tréguas. Cada um na sua teimosia.
Se a melodia desafinava, o acorde entrava em atonia, Se o acorde falhava, quebrava-se a melodia.
A melodia vivia cantando sozinha, o acorde correndo atrás de novas alegrias. Era a vida que se repetia. Para um era uma monotonia, para outro era sempre a viagem em um grande momento, seguido de quase nenhuma poesia.
A melodia, por seu lado, não conseguia mais esconder sua tristeza. Só entendia de passados. Só sabia de futuros solitários. Era uma vida de sino de campanário. As linhas melódicas de cada instrumento, no seu isolamento, perdiam toda beleza. De grandes momentos, de vibrações de orquestra, de festas de fazer tremer o coreto quando tocavam as furiosas, sempre garbosas, disso ela quase nada entendia.
A melodia buscou durante muito tempo uma saída, até que começou a achar que o acorde tinha lá suas razões para se sentir feliz da vida.
O acorde, cheio de si, entre grandes parvonadas, começou também a descobrir seu lado escuro. Passou a sentir receio de viver grandes noitadas e acabar embriagado, caindo pelas escadas, sem ontem nem futuro. De que serviriam grandes acordes sem amanhã, sem sonhos nem história, viver um momento de glória e o resto da vida vazia? Isso, com certeza, não era o que ele queria.
Nessas praias, ele pensava, bem que podia lhe dar uma mãozinha a velha e previsível melodia.
Com a decisão tomada e pronto pra nova estrada, o acorde parou pra ouvir a flauta da melodia. Procurava entrar em sintonia. Propôs à teimosa senhora criarem juntos uma sinfonia.
O acorde ensinaria à melodia o pulo do gato, a arte de criar encontros pra vida vazia de cada linha da pauta musical. As afilhadas da melodia viviam sempre isoladas e já era hora de acordar pro dia! Em contrapartida, ela, a melodia, ensinaria ao acorde a trilha pra ligar à terra, a sua ilha.
A melodia, acostumada a monologar sobre a vida, achou atraente a proposta e respondeu que estava disposta a enfrentar tal ousadia. Finalmente ela passaria a dialogar com uma nova filosofia. O acorde, sem filosofar, poderia pôr os pés na terra e, desta forma, entre elas, acabaria a guerra.
Assim passariam a fazer e a mudança deu-se a olhos vistos. Entre tropeços, foram afinando seus instrumentos.
Pra chegar ao céu é preciso subir a terra. Amor sem prazer é amendoim sem sal.
Nasceram, desse tratado, grandes valsas, cantigas, sonatas, cirandas, dobrados, cantatas e até, quem diria!?, temas de carnaval.
A melodia e o acorde descobriram que tanto paz e guerra como o bem e o mal são invenções do homem, contraditório animal.
Viver é a poesia de transformar-se, aprender a criar alegria. Não há segredos na natureza. Quem sabe o segredo esteja em ser natural?
O interessante da história é que, na briga sonora entre melodia e acorde para melhorar seu próprio dia a dia, quem acaba sempre levando vantagem é a tranqüila harmonia.
A melodia falava como quem morde ou arranjava sempre um motivo para fazer gozação com o pobre do acorde. Dizia que o acorde não sabia fazer outra coisa além de um único e grande ruído, que ele não tinha a menor idéia da beleza de um solo melodioso, puro e sem alarido. Não conhecia a vida levada a sério, ao seu mais fundo sentido, vendo o futuro, a partir do passado, passo a passo construído.
O acorde fazia que nem ligava e em altos brados retrucava que aquela velha senhora continuava a viver à moda antiga, com saudades do passado e frases mofadas de intriga. Bem se via que não entendia nada do prazer de viver a vida. Eu não, dizia ele imponente, gosto mesmo é de estar presente, de viver livre cada segundo, de gozar o som inteiro, a voz intensa de todos os instrumentos, gritar que eu existo no mundo. Quero ser eu e horizonte, quero vibrar no clímax da poesia em vez de mofar passados em mirrados e melosos trilhos de melodia.
Era uma briga sem tréguas. Cada um na sua teimosia.
Se a melodia desafinava, o acorde entrava em atonia, Se o acorde falhava, quebrava-se a melodia.
A melodia vivia cantando sozinha, o acorde correndo atrás de novas alegrias. Era a vida que se repetia. Para um era uma monotonia, para outro era sempre a viagem em um grande momento, seguido de quase nenhuma poesia.
A melodia, por seu lado, não conseguia mais esconder sua tristeza. Só entendia de passados. Só sabia de futuros solitários. Era uma vida de sino de campanário. As linhas melódicas de cada instrumento, no seu isolamento, perdiam toda beleza. De grandes momentos, de vibrações de orquestra, de festas de fazer tremer o coreto quando tocavam as furiosas, sempre garbosas, disso ela quase nada entendia.
A melodia buscou durante muito tempo uma saída, até que começou a achar que o acorde tinha lá suas razões para se sentir feliz da vida.
O acorde, cheio de si, entre grandes parvonadas, começou também a descobrir seu lado escuro. Passou a sentir receio de viver grandes noitadas e acabar embriagado, caindo pelas escadas, sem ontem nem futuro. De que serviriam grandes acordes sem amanhã, sem sonhos nem história, viver um momento de glória e o resto da vida vazia? Isso, com certeza, não era o que ele queria.
Nessas praias, ele pensava, bem que podia lhe dar uma mãozinha a velha e previsível melodia.
Com a decisão tomada e pronto pra nova estrada, o acorde parou pra ouvir a flauta da melodia. Procurava entrar em sintonia. Propôs à teimosa senhora criarem juntos uma sinfonia.
O acorde ensinaria à melodia o pulo do gato, a arte de criar encontros pra vida vazia de cada linha da pauta musical. As afilhadas da melodia viviam sempre isoladas e já era hora de acordar pro dia! Em contrapartida, ela, a melodia, ensinaria ao acorde a trilha pra ligar à terra, a sua ilha.
A melodia, acostumada a monologar sobre a vida, achou atraente a proposta e respondeu que estava disposta a enfrentar tal ousadia. Finalmente ela passaria a dialogar com uma nova filosofia. O acorde, sem filosofar, poderia pôr os pés na terra e, desta forma, entre elas, acabaria a guerra.
Assim passariam a fazer e a mudança deu-se a olhos vistos. Entre tropeços, foram afinando seus instrumentos.
Pra chegar ao céu é preciso subir a terra. Amor sem prazer é amendoim sem sal.
Nasceram, desse tratado, grandes valsas, cantigas, sonatas, cirandas, dobrados, cantatas e até, quem diria!?, temas de carnaval.
A melodia e o acorde descobriram que tanto paz e guerra como o bem e o mal são invenções do homem, contraditório animal.
Viver é a poesia de transformar-se, aprender a criar alegria. Não há segredos na natureza. Quem sabe o segredo esteja em ser natural?
O interessante da história é que, na briga sonora entre melodia e acorde para melhorar seu próprio dia a dia, quem acaba sempre levando vantagem é a tranqüila harmonia.
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